A vegetação da Serra da Cantareira,
na zona norte de São Paulo, vai ser campo de pesquisa para um levantamento
botânico inédito na região. O estudo vai mapear, recolher, replicar e replantar
espécies de plantas nativas e será usado nos trabalhos de redução dos impactos
ambientais do Trecho Norte do Rodoanel Mário Covas, cujas obras devem começar
até março. O estudo é resultado de um contrato firmado entre a empresa estadual
Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa), responsável pela construção das novas
pistas, e o Instituto de Botânica, ligado à Secretaria de Estado do Meio
Ambiente. O contrato, de R$ 2,5 milhões, foi assinado na quinta-feira e tem
validade de três anos. Projeto parecido, realizado no Trecho Sul do Rodoanel,
identificou espécies que eram consideradas extintas pelos estudiosos. A
diferença entre os trabalhos, segundo o diretor do Centro de Pesquisa do
Instituto, Luiz Mauro Barbosa, é que no Trecho Sul os trabalhos começaram com
as obras já em andamento. "Dessa vez, teremos mais tempo para nos
planejarmos", afirma. "Brinco dizendo que, no Trecho Sul, não tivemos
de subir nas árvores para coletar as orquídeas. Era só esperar as árvores serem
derrubadas", exagera Barbosa.
Para o MP
ver
O diretor explica que esse tipo de
levantamento serve para permitir que a vegetação cresça de forma mais
consistente nos locais de reflorestamento. "Há alguns anos, o trabalho de
reflorestamento era até chamado de ?para o Ministério ver?, numa referência ao
Ministério Público (que fiscaliza o cumprimento dos serviços mitigadores de
impacto). Porque, passados alguns anos, a vegetação replantada não se
sustentava", afirma. Agora, diz ele, com o aprendizado obtido nos estudos
do Trecho Sul, a produtividade da área reflorestada é maior.
"Anteriormente, o plantio era feito com várias mudas de poucas espécies
diferentes. Agora, a orientação é utilizar poucas mudas de várias espécies
diferentes", diz o pesquisador. Serão cerca de 60 pessoas, entre
funcionários do instituto e estudantes de botânica, que vão percorrer toda a
área do traçado da obra - uma faixa de 43 quilômetros de extensão por cerca de
300 metros de largura. Uma das prioridades é identificar separadamente as
chamadas espécies pioneiras - vegetação que tem um ciclo de vida menor e que é
responsável por permitir que outras árvores, mais robustas, cresçam com mais
força - e as não pioneiras. "As pioneiras precisam de mais sol. As não
pioneiras, de mais sombra nos primeiros anos", diz Barbosa.Para se ter ideia da diversidade
vegetal da área, o diretor diz que cada hectare de mata (10 mil m², ou a área
equivalente ao tamanho de um campo de futebol) mantém cerca de 170 espécies
diferentes de plantas.
Dersa
Para a Dersa, a escolha do
instituto para fazer esse trabalho traz vantagens. Como é um órgão estatal, o
contrato não exigiu licitação pública e os ganhos técnicos desse levantamento
ficarão para o governo do Estado. Mas o diretor-presidente da Dersa, Laurence
Lourenço, afirma que a empresa foi escolhida primeiramente porque já havia
realizado o trabalho no Trecho Sul. O mapeamento, diz ele, permite que sejam
estabelecidos critérios mais rígidos na hora do poder público definir as ações
de compensação ambiental para o licenciamento de obras. "Impactos com
certeza sempre vão existir. Mas é possível reduzi-los."
BRUNO RIBEIRO - Agência Estado - foto oficial - Trecho Sul
As informações são do jornal O Estado
de S.Paulo.
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