Se você pensava que o risco de incêndios agressivos que ocorreram no 4o. Semestre/2024 se limitava a áreas rurais, é hora de repensar. Um fenômeno climático preocupante, antes associado a desertos, está cada vez mais presente no cotidiano urbano de São Paulo, elevando o risco de incêndios em edifícios e galpões comerciais e industriais. A combinação de altas temperaturas e baixíssima umidade relativa do ar cria um cenário alarmante, com consequências potencialmente catastróficas para a infraestrutura e a saúde pública em tempos de mudanças climaticas.
Edificio Copan - Incendio dia 30/10/2024. Fonte - Banda-B
O último trimestre de 2024 já deu sinais claros do que está por vir, com noticiários diários sobre incêndios rurais agressivos. O que poucos sabem é que essa realidade pode se transportar para os centros urbanos. A história nos mostra exemplos sombrios, como os incêndios dos Edifícios Joelma (1974) e Andraus (1972) na região central de São Paulo, ambos ocorridos em fevereiro. E um evento recente, em 12 de setembro de 2024, trouxe um alerta ainda mais contundente.
Estação Meteorelogica SÈ - Temperatura 34 graus - 12/09/24 - Credito: CGE/SP
Naquele dia (12/09/2024), por volta das 15h, a Estação Meteorológica da Sé (SGE) registrou uma temperatura de 34°C e uma umidade relativa do ar de impressionantes 11,71%. Para colocar em perspectiva, a média de umidade do "Deserto do Saara", a 8.260 km de São Paulo, é de 20%. Ou seja, por algumas horas, o centro da maior cidade do Brasil viveu condições 50% menos úmidas que o próprio Saara, eliminando a distância e a barreira geográfica para a presença desses elementos climáticos gravíssimos.
Estação Meteorelogica SÈ - Umidade Relativa -11,7 % - 12/09/24 - Credito: CGE/SP
O Perigo à Espreita: Impactos nas Estruturas Fisicas e no Meio Ambiente
A ameaça vai muito além do calor. A baixa umidade e as altas temperaturas afetam diretamente as estruturas físicas de edifícios e galpões comerciais e industriais:
- Ressecamento de Materiais: Madeira, couro e plásticos
podem ressecar, rachar e deformar, tornando-se mais vulneráveis ao fogo.
- Dilatação e Contração: Variações extremas de
temperatura causam a expansão e contração de materiais como concreto e
metal, levando a rachaduras e fissuras.
- Desconforto Térmico e
Consumo de Energia: A dificuldade em dissipar o calor em
ambientes com baixa umidade aumenta o desconforto e a demanda por sistemas
de climatização, elevando o consumo de energia.
- Conservação de Produtos: Alimentos e materiais sensíveis à umidade têm sua conservação comprometida.
- Problemas de Manutenção: Componentes eletrônicos e
mecânicos sofrem com temperaturas extremas e poeira.
A
consequência mais grave é o aumento do risco e da intensidade dos incêndios.
Em áreas urbanas densamente povoadas, com alta concentração de edifícios, um
único foco de incêndio pode se espalhar rapidamente, gerando consequências
catastróficas.
Palco do Castelo Ra-Tim-Bum – Museu da Casa Brasileira – 05/10/24 - Fonte - Jovem Pan
Os Perigos Invisíveis: Poluição, Contaminação e
Impactos na Biodiversidade
Um incêndio urbano não termina quando as chamas são apagadas. Os impactos ambientais são profundos e interconectados:
- Poluição do Ar: A queima de materiais
libera gases tóxicos (monóxido de carbono, dióxido de carbono, óxidos de
nitrogênio, dióxido de enxofre), material particulado fino e compostos
orgânicos voláteis. Essa fumaça causa problemas respiratórios e
cardiovasculares, reduz a qualidade do ar em extensas áreas e contribui
para o efeito estufa.
- Contaminação do Solo e da
Água: A
água usada no combate ao fogo carrega cinzas, resíduos e produtos químicos
para o solo e corpos d'água, contaminando lençóis freáticos e sistemas de
drenagem, o que pode comprometer o abastecimento de água e a saúde dos
ecossistemas.
- Impactos na Biodiversidade Urbana: Áreas verdes, como parques e jardins, são destruídas, impactando a fauna local (aves, insetos, pequenos mamíferos) e a capacidade da cidade de regular a temperatura e absorver poluentes.
Shopping Brás – Rua Barão de Ladário, 308 -
Brás Início do Incêndio próximo das 06:40 - Área atingida 18 Mil² - 200
lojas Defesa Civil – Telhado do
shopping colapsou. - Fonte - Prefeitura/SP
Diante desse cenário, a resiliência das infraestruturas é fundamental. A legislação municipal de São Paulo, embora não especifique detalhadamente dispositivos para troca de calor em telhados de galpões, possui marcos que indiretamente incentivam soluções de resfriamento passivo, como a ventilação natural.
A Política Municipal de Mudanças Climáticas (Lei nº 14.933/2009)
e o Protocolo Municipal de Enfrentamento ao Calor Extremo (Portaria nº
362/2025) são exemplos de iniciativas que podem, em futuras
regulamentações, abordar medidas para reduzir o calor interno em edificações.
O Corpo
de Bombeiros do Estado de São Paulo (CBPMESP), por meio do Decreto nº
63.911/2018 e suas Instruções Técnicas (ITs), já estabelece requisitos para
sistemas de segurança contra incêndio e ventilação, que podem indiretamente
auxiliar na minimização da temperatura interna, especialmente em locais com
materiais inflamáveis.
O Que Fazer? A Solução Ignorada: Exaustores
Térmicos
Apesar da gravidade do problema, muitos galpões e edifícios comerciais não são projetados para oferecer ambientes confortáveis e com redução de calor. Dispositivos como exaustores térmicos, novos projetos, e revisão da capacidade de distribuição e carga de energia eletrica sob orientação tecnica autorizada, parte crucial da solução e ajudariam a preservar materiais, produtos e alimentos, mas também garantiriam maior conforto e segurança para moradores em edificios e colaboradores em galpões industriais, comerciais e de logistica.
A combinação de alta densidade populacional e de edifícios com condições climáticas extremas de altas temperaturas e baixa umidade eleva significativamente o risco. É crucial que a sociedade, as autoridades e os proprietários de imóveis reconheçam a urgência dessa questão e implementem medidas de mitigação eficazes. A proteção da vida, da saúde e do patrimônio depende de uma ação proativa e da adaptação de nossas cidades a um clima que se mostra cada vez mais extremo.
Fontes - fotos Jornalismos - Texto/Pesquisa - Carvalho, R.J - Diretoria APGAM - Diretoria de Comunicação - Ga. Eduardo Oliveira - Apoio - Ga. Caroline Kerestes (Pres. APGAM)
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